Se há máscaras, onde quer que estejam, elas cairão
De propriedade intelectual de muita gente, o movimento Adote um Digital provocou polêmica em Brasília, há pouco mais de uma semana, ao divulgar o seu ranking com as melhores e piores avaliações dos deputados com assento na Câmara Legislativa.
A entidade foi criticada pela maioria dos parlamentares, que se sentiu injuriada com as notas. Critérios adotados foram recriminados e ataques dos dois lados trouxeram à tona um clima pesado ao longo dos últimos dias.
Mas, nem por isso o assunto parece ter morrido. Os padrinhos prometem continuar avaliando as atividades dos afilhados, gerando, como conseqüência imediata, mais reações.
Salvo os deputados que encabeçaram a lista das notas máximas, os demais recorrem a expressões, muitas delas chulas, para tentar desacreditar o movimento. Até porque, como disse um deles, na Câmara Legislativa não há menino de rua para ter padrinho.
Em conversa com Notibras, Diego Ramalho, uma espécie de porta-voz do movimento, revelou que o Adote um Distrital vai ampliar o raio de ação. O abraço será maior, se estendendo de imediato ao Congresso Nacional. Com o tempo, estará batendo também nas portas do Executivo e do Judiciário. Uma meta sem prazo, mas que tende a sair do papel.
Lançado no começo do ano, com aval, segundo Diego Ramalho, do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (que inclui os defensores da Lei da Ficha Limpa) e da Ordem dos Advogados do Brasil, o Adote um Distrital foi inspirado em iniciativa semelhante de São Paulo, onde os paulistanos costumam pegar no pé dos vereadores e deputados estaduais.
Em Brasília, porém, o movimento parece caminhar mais para desmoralizar os poderes constituídos, revela um parlamentar que prefere manter o anonimato, temendo ser alvo da ira de padrinhos alheios. Talvez por temer represálias semelhantes, o Adote não revela quem apadrinha quem. “Temos mais de 600 pessoas cadastradas e a escolha dos afilhados cabe a cada um dos padrinhos”, diz Diego.
Sem uma diretoria eleita formalmente, o que supostamente impediria ações contra a entidade, o Adote um Distrital, não interfere em manifestações individuais feitas publicamente por seus membros.
- Aqui somos apartidários, mas ninguém está impedido de se filiar a uma legenda política. Mas se alguém sonha um dia usar o movimento como um trampolim para ingressar na carreira política, disputando um mandato, não contará com o envolvimento direto do Adote”, adverte Diego Ramalho, como se dirigindo a seus próprios pares.
Após assegurar que o projeto é aberto e que não visa avaliar posturas individuais dos cidadãos, Diego enfatiza que não se ataca deputado, “porém cada coordenador tem seu perfil e sua postura nas redes sociais”, ou seja, se um padrinho não simpatiza com o afilhado de um colega, nada impede que deixe isso claro publicamente.
A título de ilustração, Diego lembra que existem dentro do programa voluntários que admiram o governo de Agnelo Queiroz e os que entendem que a administração petista de Brasília não merece crédito. Mas isso, afirma, é da consciência de cada um, não é do coletivo do movimento: “Não nos reunimos para debater se o governo ou o deputado é bom, corrupto ou honesto. Debatemos apenas projetos e idéias”, acentua.
Talvez para justificar eventuais rotas de colisão com alguns dos parlamentares, Diego Ramalho sustenta que as relações “com todos os deputados que nos recebem, são boas”, ou seja, nem toda a bancada dos 24 distritais parece dar muita importância ao movimento.
Até o final do ano, o Adote um Distrital pretende apresentar um ranking geral dos deputados para toda sociedade. A idéia é transformar tudo que o parlamentar faz em dados. “Não criamos ou inventamos números; as informações são produzidas pelos próprios parlamentares; a nós caberá apenas tabular, como se fosse um grande raio-x, para concluirmos nosso diagnóstico”, finaliza Diego.
Até lá, ao que se acredita, mais farpas serão trocadas. E se quaisquer dos lados estiver usando máscaras, com certeza elas cairão.
Fonte: Publicado em 26 de Setembro de 2011 por Notibras.
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