Depois
de ser demitido pelo governador Agnelo Queiroz, Suamy Santana assume
erro no episódio da compra das capas de chuva e decide deixar a PM. A
Secretaria de Transparência abre processo para apurar supostas
irregularidades
Há 31 anos na corporação, Suamy negou que o desgaste da compra dos equipamentos tenha motivado a aposentadoria: "Cumpri a minha missão" |
Jurando inocência quanto à polêmica da compra das capas de chuva para a
Copa do Mundo — que será realizada em pleno período de seca — e com
direito a choro, o coronel Suamy Santana da Silva se despediu ontem do
comando da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), e ainda anunciou
que vai para a reserva. Na verdade, quando chegou ao quartel- general da
corporação, pela manhã, ele já era ex-comandante, pois a exoneração
dele e a nomeação do também coronel Jooziel de Melo Freire para o cargo
já haviam sido publicadas no Diário Oficial do DF. Suamy foi demitido
pelo governador Agnelo Queiroz (PT) por ter incluído a compra dos
equipamentos de proteção na relação de itens adquiridos para a
competição esportiva. O coronel disse que o episódio não passou de um
erro administrativo e enfatizou, mais de uma vez, a sua integridade:
“Não sou ladrão, não sou corrupto”.
O ex-comandante convocou a imprensa para tentar explicar a situação que
ele classificou como “um vacilo” da área administrativa da corporação
que ele, como chefe, decidiu assumir. “Houve um erro, que foi encaminhar
essa ação de compra a um pedido da Secretaria de Segurança para
relacionar os gastos e as aquisições para a Copa. Fui eu quem assinei e
nunca responsabilizei os meus subordinados quando eu sou o chefe maior.
Então, a culpa é realmente minha”, destacou.
A intenção da pasta da Segurança era encaminhar a relação de gastos
para a Copa do Mundo à Secretaria de Transparência e Controle (STC) a
fim de que os dados fossem divulgados em um site específico voltado para
as competições internacionais, que lista os investimentos de várias
áreas da administração pública. O coronel ressalta que o deslize foi
apenas ter incluído o pedido de compra das capas nesse pacote. No
entanto, a primeira reação do coronel, em entrevista ao Correio, na
edição de quarta-feira, foi defender sumariamente a aquisição e até
chegou a dizer que ninguém seria “oráculo” para prever se choveria em
Brasília em junho e julho (meses das competições). A admissão de erro só
veio depois.
O ofício relacionando os projetos em execução pela polícia, incluindo
as compras de equipamentos que totalizavam R$ 21 milhões (entre eles as
capas), foi encaminhado à Subsecretaria de Planejamento e Capacitação da
SSP com a assinatura do coronel Paulo Roberto Witt Rosback, atual chefe
do Departamento de Logística e Finanças da PM. Ele foi um dos
comandantes da corporação no governo Agnelo Queiroz, substituído por
Sebastião Davi Gouveia. Rosback e Gouveia eram próximos ao deputado
Patrício (PT), que é militar, e perderam os cargos por não conseguirem
administrar o descontentamento dos integrantes da corporação, que
exigiam reajustes salariais. Gouveia foi substituído justamente por
Suamy, indicação direta do secretário de Segurança Pública, Sandro
Avelar. Quando assumiu, o novo chefe tinha como tarefas apaziguar a
tropa, reduzir os índices de criminalidade e tentar acabar com a
influência política no meio militar. “Cumpri a minha missão”, disse
ontem Suamy.
De acordo com o ex-comandante, a compra das capas estaria sendo
cogitada pela PMDF desde 2010. Mas, com a demora do trâmite burocrático,
como a análise por órgãos de controle e pela Procuradoria-Geral do DF,
acabou ficando liberada apenas este mês. O pregão eletrônico estava
marcado para ocorrer no próximo dia 18, incluindo a aquisição de vários
equipamentos. Somente os itens de proteção contra a chuva, 17 mil
unidades, estavam orçados em R$ 5,3 milhões. “Venceria a empresa que
apresentasse o menor preço e teríamos um ano para ir adquirindo as
capas. Poderíamos comprar 17 mil ou nenhuma, ou 10, ou 100”, disse. A
compra está suspensa.
Choro
No dia em que deixou o comando-geral da PMDF, Suamy Santana apresentou o
pedido de aposentadoria. Ontem mesmo, fez a solicitação formal de
transferência para a reserva da corporação. Ele, que esteve à frente da
tropa por mais de um ano, disse que tem 31 anos de carreira e ficha
imaculada. Ao falar da família, ele se emocionou e chorou. “Não tenho
vergonha. Desculpa, é que sou muito visceral, sou muito coração”,
desabafou, enquanto enxugava as lágrimas com um guardanapo de papel. Ele
também considera que a atitude do governador ao demiti-lo foi correta,
até para que não fique dúvida quanto à lisura do processo relacionado
com a Copa do Mundo.
Uma auditoria começou a ser feita ontem mesmo pela Secretaria de
Transparência e Controle no pedido de compra das capas de chuva. A
titular da pasta, Vânia Lúcia Ribeiro Vieira, explicou que os técnicos
vão analisar o preço, a quantidade e a especificidade dos equipamentos.
“Ainda bem que pudemos identificar preventivamente, até para evitar
danos ao erário. Acredito que, até o fim da próxima semana, o nosso
relatório esteja pronto”, explicou.
Cinco perguntas para
Cinco perguntas para
O senhor diz que lutou contra ingerências políticas durante o ano em que ficou à frente da tropa.
Como se deu isso?
Todos os órgãos públicos e privados sofrem ingerência política. Então,
me refiro a direcionar todas as ações de polícia ao cunho estritamente
técnico orientado pelo governador do Distrito Federal.
O senhor pode dar as especificidades dessas capas?
O senhor pode dar as especificidades dessas capas?
Essa não é uma capa que se compra na feira. Ela dá proteção para pular
uma cerca ou um muro, por exemplo. Tem um sistema refletivo importado,
que, a uma distância grande, se identifica a presença do policial. Não é
um equipamento qualquer. Eu enfrentei pedreiras à frente da corporação e
estou entregando o comando por causa de uma capa de chuva. Faço isso
feliz porque entendo que cumpri a minha missão, mas triste pela polêmica
que foi criada em cima de algo que, para mim, foi insignificante.
O que aconteceu?
Eu não sou burro, seria incapaz de comprar 17 mil capas para uso no
período de seca do Distrito Federal para a Copa do Mundo. Seria o cúmulo
da idiotice. O que houve foi um erro de administração de informar isso.
Eu era o comandante em chefe e assumi o erro. Vou para a reserva da
Polícia Militar. Já assinei o meu requerimento de reserva. Amanhã, já
estarei nas ruas como cidadão comum.
O senhor pensa que esse foi um erro de caso pensado?
Acredito na lealdade, na honestidade e na ética do policial militar.
Por isso, estou há 31 anos na corporação. Acredito que houve um erro, um
descuido, uma falta de avaliação. Assumimos o erro.
O senhor vai para a reserva por causa do desgaste do episódio das capas de chuva?
Não. Tenho 31 anos de serviço e já poderia ter me aposentado. Não saí
porque atendi o chamado do governador na época da crise na Polícia
Militar. Acho que vou contribuir mais como cidadão do que aqui na
Polícia Militar, porque aqui eu cumpri a minha missão.
Fonte: Correio Braziliense - Por Almiro Marcos
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