Rosemary e mais 23 respondem por fraudes em pareceres; Paulo Vieira quer delação premiada
O Ministério Público Federal (MPF) denunciou ontem 24 pessoas, entre
elas a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo
Rosemary Noronha, por envolvimento no esquema de elaboração de
pareceres fraudulentos de órgãos públicos para beneficiar interesses
privados. Formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva,
falsidade ideológica e tráfico de influência estão entre os crimes
que teriam sido cometidos pelo grupo, integrado por 14 funcionários
públicos. Destes, um já tinha pedido demissão e 13 foram afastados ou
exonerados.
O esquema foi descoberto em dois anos de investigação da Polícia
Federal (PF) em conjunto com o MPF, que resultou na operação Porto
Seguro, deflagrada no mês passado. Considerado o líder do grupo e
denunciado por cinco tipos de crimes, o ex-diretor da Agência Nacional
de Águas (ANA) Paulo Vieira entrou em contato com a Procuradoria
demonstrando interesse no benefício da delação premiada.
Segundo a procuradora da República Suzana Fairbanks, uma das autoras
da denúncia, o novo advogado de Vieira, Michel Darré, telefonou
anteontem para o gabinete da Procuradoria e informou sobre o interesse
do ex-diretor da ANA nesse tipo de colaboração. Há dois dias, o
advogado Pierpaolo Botini deixou o caso por divergências com Vieira na
condução da defesa. Ontem, Darré não retornou aos pedidos de
entrevista.
- (A delação) Depende da efetiva colaboração dele, que não é
confissão, é muito mais que isso. Ele tem de trazer informações
novas e trazer pessoas novas- disse Suzana.
Segundo os autos, foram identificadas 27 situações nas quais Rosemary
pede, cobra ou recebe "favores" de Vieira, que teria pedido outros 15
"favores" a ela. Para Suzana Fairbanks, se, a princípio Rosemary
parecia exercer um papel secundário no esquema, com as provas essa
participação ganhou contornos mais relevantes. O advogado de Rosemary,
Celso Vilardi, afirmou que o processo é o "foro adequado para mostrar a
improcedência da denúncia".
De acordo com a procuradora da República, não há como afirmar que
Rosemary agisse orientada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ela lembrou que a ex-chefe de gabinete não teve seus telefonemas
interceptados na investigação.
- O que dava para se ver era sempre que ela tinha um contato com ele
(Lula). Não deu para percebermos sobre o relacionamento pessoal deles,
isso nunca foi o foco. A gente não sabia disso - disse Suzana, para
quem Rosemary se valia mais de seu cargo do que da proximidade com Lula
para exercer tráfico de influência: - Era muito mais pelo cargo, mas
ela estava no cargo por uma indicação direta dele; e isso acabava se
misturando um pouco. Mas ela não se apresentava por ele ou por ordem
dele.
Segundo Suzana, a "mesma situação" entre Rosemary e Lula se dava com o
ex-ministro José Dirceu, condenado a dez anos e dez meses de prisão
pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Rosemary chama Lula de "PR", em
referência à Presidência da República, e Dirceu de "JD":
- Ela indica que tem proximidade com ele (Dirceu), de contato social e
de amizade, de frequentar festas, ir em casa, ter convívio com a
pessoa.
Os acusados ainda podem responder a uma ação civil pública de
improbidade, que está sendo analisada pelo MPF, e a uma investigação
por lavagem de dinheiro. Segundo Suzana Fairbanks, o inquérito para
tratar de suposta lavagem de dinheiro foi instaurado pela PF, que já
solicitou algumas quebras de sigilos de empresas. Também não estão
descartadas as quebras de sigilos bancários e fiscais de alguns
investigados. A Justiça Federal já autorizou o compartilhamento de
provas entre as diferentes linhas de investigação e remeteu ao STF e
à Procuradoria Geral da República os nomes de pessoas com foro
privilegiado citados no inquérito.
diferentes linhas de investigação e remeteu ao STF e à Procuradoria
Geral da República os nomes de pessoas com foro privilegiado citados no
inquérito.
A Polícia Federal havia indiciado 22 pessoas e o MPF foi além,
denunciando mais dois nomes supostamente envolvidos nos crimes. Entre
eles, o próprio autor da denúncia, o ex-auditor do Tribunal de Contas
da União (TCU) Cyonil da Cunha Borges. Segundo o inquérito, ele teria
combinado com Vieira o recebimento de R$ 300 mil para alterar um parecer
que favoreceria uma empresa de portos. Desta quantia, ele recebeu R$
100 mil, que afirma ter devolvido. O advogado de Cyonil, Rodrigo
Felberg, disse que seu cliente só se pronunciará ao tomar conhecimento
da denúncia.
- A prova é cabal. Ele modificou um parecer depois que foi corrompido - disse Suzana.
O outro denunciado pelo Ministério Público Federal que não tinha
sido indiciado pela PF é o vice presidente jurídico dos Correios,
Jefferson Carús Guedes, por suposto crime de corrupção passiva.
Segundo a instituição, Guedes se afastou do cargo há duas semanas
para que seja feita uma auditoria interna do caso. Em nota divulgada
ontem por assessoria, os Correios informaram que só irão se pronunciar
sobre a denúncia após serem oficialmente comunicados.
Fonte: O Globo - Por Tatiana Farah
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