AGU se recusou a fazer parte de processos que buscam indenização dos mensaleiros
| Justificativa. A AGU, comandada por Luís Inácio Adams, alega que seu objetivo, ao se recusar a integrar os processos, foi não atrasar os pedidos de ressarcimento ao Erário |
A Advocacia Geral da União (AGU) se recusou por duas vezes a fazer parte de processos que pedem a devolução de dinheiro desviado para o mensalão. Uma das recusas ocorreu há menos de três meses, em meio ao julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) da ação penal referente ao esquema criminoso, e foi orientada pela Procuradoria Geral da União, órgão de direção superior da AGU.
Numa das ações em que a AGU preferiu não entrar no caso, para tentar
recuperar o dinheiro desviado, há 21 réus acusados de transações
que resultaram em suposto enriquecimento ilícito de beneficiários do
mensalão. O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-tesoureiro do
PT Delúbio Soares, o ex- presidente do PT José Genoino, o operador do
esquema, Marcos Valério, e diretores do Banco Rural são réus no
processo, em tramitação na Justiça comum desde 2007. Os
beneficiários apontados na ação do Ministério Público Federal (MPF)
são políticos do PP, entre eles o deputado federal Pedro Henry (MT). A
"vantagem econômica" mencionada na ação é de R$ 4,1 milhões. No
STF, todos já foram condenados pela prática dos crimes.
No julgamento do mensalão, o STF concluiu que houve desvio de dinheiro
público para o mensalão. Os ministros já iniciaram uma dis- cussão
sobre a recuperação dos recursos desvi- ados. A proposta do decano do
tribunal, Celso de Mello, é estabelecer um valor mínimo a ser
indenizado pelos réus, o que deve ser discutida nesta fase final do
julgamento. Os ministros de- cidiram pela perda de bens de Valério para
res- sarcir o Erário pelo crime de lavagem de dinhei- ro. Segundo
manifestação de Celso de Mello em plenário, a AGU já deveria ter
ingressado com ações para recuperar o dinheiro público.
Decisões tomadas na gestão de adams
A decisão de não fazer parte de duas ações de improbidade
administrativa em curso na Justiça Federal em Brasília foi tomada na
gestão do atual advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. Apesar
da recusa da AGU em fazer parte dos processos, o dinheiro proveniente de
um eventual ressarcimento de danos é destinado diretamente ao Tesouro
Nacional. Para isso, o juiz responsável deve calcular o valor a ser
ressarcido e determinar a devolução na sentença.
A ação na esfera cível pede o ressarcimento integral do dano ao
Erário e a intimação da União para atuar no caso junto ao MPF, caso
exista o interesse pela recuperação do dinheiro público. A primeira
manifestação da AGU foi em maio de 2011, quatro anos depois de
iniciada a tramitação do processo. "Aguarda-se autorização do
procurador-geral da União para intervir ou não no presente processo",
manifestou em ofício a Procuradoria Regional da União da 1a Região.
Em 14 de setembro deste ano, a mesma unidade confirmou a negativa à
Justiça: "Não é pertinente o ingresso da União. A assistência ao
MPF só ocorre em ação de improbidade em que, objetiva e
concretamente, a atuação da União agregue utilidade ao processo".
O outro processo em que a AGU se recusou a recuperar o dinheiro
público desviado diz respeito à contratação pela Câmara dos
Deputados - sob a presidência do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) -
da SMP&B Comunicação, empresa de Marcos Valério, e ao saque de R$
50 mil na boca do caixa do Banco Rural pela mulher do parlamentar. São
réus no processo o deputado João Paulo, Valério e sócios e
diretores do Rural. Também nesse caso, o STF já condenou os envolvidos
no esquema.
A ação de improbidade administrativa, com pedido de ressarcimento
integral do dano causado, tramita desde 2007. O MPF sugeriu o ingresso
da União no processo. "Não se mostra pertinente o ingresso da União,
seja pela ausência de elementos próprios a reforçar o quadro
probatório, seja porque o interesse público já se encontra
devidamente resguardado pela atuação do MPF", argumentou a AGU na
resposta à Justiça, em setembro de 2011. João Paulo responde a outra
ação de improbidade na Justiça Federal em Brasília. Uma decisão
judicial referente a este processo, em 2007, intimou a União para se
posicionar sobre o interesse em atuar ao lado do MPF. Não houve
resposta da AGU.
Em reportagem do GLOBO publicada em novembro, sobre as dificuldades da
União para reaver o dinheiro público desviado no mensalão, a AGU
sustentou que a "reparação pecuniária" decorrente do esquema já era
objeto de ações cíveis propostas pelo MPF na primeira instância do
Judiciário. Nas manifestações entregues até agora à Justiça, a AGU
preferiu ficar fora dos processos.
Sete ações de improbidade em curso
São sete ações de improbidade administrativa abertas como
desdobramento da ação penal julgada pelo STF: cinco se referem aos
principais núcleos e aos integrantes de cinco partidos beneficiários
do valerioduto - as "vantagens econômicas" somam quase R$ 41 milhões -
e as outras duas tratam da participação do deputado João Paulo no
esquema. A AGU confirmou que não integra o polo ativo em nenhum dos
sete processos, apesar da sugestão do MPF nas ações.
A AGU informou ao GLOBO que uma das razões de não ter feito parte nas
ações de improbidade em curso na Justiça foi para não atrapalhar e
atrasar o pedido de ressarcimento da Procuradoria. "O ingresso da União
poderia atrasar a tramitação do processo, impondo a necessidade de
sua intimação em todos os atos processuais." O MPF no DF, por sua vez,
diz aguardar decisão do STF sobre como agir em relação ao ingresso
da AGU nos autos."Não houve investigação por parte de órgãos de
controle (CGU, TCU, procedimentos disciplinares), o que não legitima a
atuação da União no caso", diz a AGU em resposta ao GLOBO, em
referência às ações de improbidade em curso na Justiça.
Fonte: O Globo - Por Vinicius Sassine
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