Se depender do roteiro traçado pelo senador, a eleição presidencial de 2014 poderá ser bem diferente das duas últimas. Tanto em 2006 quanto em 2010, o PSDB não conseguiu se colocar como alternativa real na cabeça do eleitor. Não trouxe ideias capazes de animar o debate político e não conseguiu se descolar da pauta imposta pela gestão petista. Aécio trabalha agora para formular outra agenda e começa a esboçar o programa para a campanha. Do ponto de vista da economia, estarão de volta as bandeiras de corte liberal dos tucanos, agora apimentadas por críticas a políticas executadas pelo governo Dilma. Metas de inflação desleixadas, isenções fiscais seletivas, ingerências na economia, crescimento irrisório e paralisia nas obras de infraestrutura serão os alvos prediletos dos tucanos.
A contundência das propostas, contudo, ainda parece depender demasiado de um eventual fracasso da atual política econômica, obviamente descartado pelo governo. É como se, para dar certo, tudo tivesse de dar errado. O índice inflacionário é o cavalo de batalha do momento. Na quarta-feira 1º, no palanque da Força Sindical, em São Paulo, Aécio jogou no colo do governo a responsabilidade pela alta dos preços: “A leniência do governo coloca em risco uma das maiores conquistas das últimas décadas: o controle da inflação. Não vamos permitir que esse fantasma volte a nos assombrar”, disse Aécio.
O nascente programa tucano passa a ganhar contornos mais corrosivos quando Aécio agrega à critica da política econômica uma discussão sobre ética e democracia. Desvios mensaleiros e denúncias de corrupção serão temas da campanha levados junto com a ideia de que o governo Dilma e o PT se revelam essencialmente autoritários. Os tucanos já começam a elevar o tom na defesa da independência de poderes e no que entendem como graves ameaças às liberdades democráticas. Há uma tendência de explorar a suposta identidade “chavista-bolivariana” que o PSDB gostaria de ver grudada ao governo petista. Esse conjunto de liberalismo econômico e combate à corrupção e ao autoritarismo tende a aproximar o discurso tucano em 2014 daquele adotado pelas oposições na Venezuela e na Argentina, por exemplo.
A contundência das propostas, contudo, ainda parece depender demasiado de um eventual fracasso da atual política econômica, obviamente descartado pelo governo. É como se, para dar certo, tudo tivesse de dar errado. O índice inflacionário é o cavalo de batalha do momento. Na quarta-feira 1º, no palanque da Força Sindical, em São Paulo, Aécio jogou no colo do governo a responsabilidade pela alta dos preços: “A leniência do governo coloca em risco uma das maiores conquistas das últimas décadas: o controle da inflação. Não vamos permitir que esse fantasma volte a nos assombrar”, disse Aécio.
O nascente programa tucano passa a ganhar contornos mais corrosivos quando Aécio agrega à critica da política econômica uma discussão sobre ética e democracia. Desvios mensaleiros e denúncias de corrupção serão temas da campanha levados junto com a ideia de que o governo Dilma e o PT se revelam essencialmente autoritários. Os tucanos já começam a elevar o tom na defesa da independência de poderes e no que entendem como graves ameaças às liberdades democráticas. Há uma tendência de explorar a suposta identidade “chavista-bolivariana” que o PSDB gostaria de ver grudada ao governo petista. Esse conjunto de liberalismo econômico e combate à corrupção e ao autoritarismo tende a aproximar o discurso tucano em 2014 daquele adotado pelas oposições na Venezuela e na Argentina, por exemplo.
ALVO
Aécio pretende associar a imagem de Dilma Rousseff à falta de diálogo e má gestão
Aécio pretende associar a imagem de Dilma Rousseff à falta de diálogo e má gestão
O PSDB também irá se empenhar em conquistar aliados e ampliar a tradicional aliança com o esquartejado DEM. O quadro idealizado por Aécio para o ano que vem troca o tradicional embate PT versus PSDB por um duelo mais amplo de governo versus oposição. Aécio imagina o novo PSDB capaz de dialogar com os eleitores de todas as classes sociais, mas primeiramente com a classe média das grandes cidades. “O PT não trouxe uma agenda para o País, trabalhou esses últimos anos com as ideias colocadas no governo de Fernando Henrique, mas precisamos avançar”, tem dito o senador a seus interlocutores. Das inúmeras conversas mantidas com empresários e banqueiros, muitas delas feitas com a presença do ex-presidente FHC, o senador mineiro concluiu que o governo da presidenta Dilma Rousseff não transmite a segurança necessária para que o País receba investimentos privados na quantidade necessária para alavancar um crescimento consistente. Aécio ouviu queixas de empresários sobre a interferência do Estado na economia e mudanças de regras de jogo, uma ação que não identificariam no governo do ex-presidente Lula.
Dos encontros com políticos, Aécio chega a outras conclusões. A principal delas é a de que há um crescente descontentamento de prefeitos e governadores, inclusive de partidos ligados à base de apoio do governo, com o que tem chamado de “concentração de poder na esfera federal”. Muitos reclamam que Brasília distribui pacotes de bondades à custa de diminuição de recursos para os Estados e municípios, mas pouco abre mão das receitas federais. Nesse sentido, o senador pretende levar aos tucanos a ideia da defesa do “federalismo” como uma forma de repaginar a velha bandeira municipalista, até hoje apontada como uma das principais razões para a densidade eleitoral do PMDB em todo o País. A receita de Aécio para o PSDB é fazer com que o partido assuma a linha de frente de uma política de valorização dos Estados e municípios, assegurando a governadores e prefeitos a retomada da capacidade de investimentos locais ou regionais. Tucanos que têm participado desses encontros de Aécio com governadores e prefeitos, relatam que muitos deles, principalmente os de partidos ligados à base de apoio do governo, se sentem tratados como dependentes de Brasília e não como aliados. São lideranças que eventualmente poderiam aderir a uma campanha oposicionista se enxergassem nela a solução para seus problemas locais.
PALANQUE
No comício da Força Sindical, ataques ao governo pela suposta volta da inflação
No comício da Força Sindical, ataques ao governo pela suposta volta da inflação
Nas pesquisas pré-eleitorais que tem em mãos, o senador identifica um esgotamento das gestões do PT, principalmente entre as camadas de renda mais alta. Na última pesquisa, feita com uma amostragem de seis mil eleitores nas classes A e B, sua provável candidatura tem índices semelhantes ao da presidenta Dilma e superiores aos obtidos por Marina Silva – que carrega consigo um enorme recall da eleição de 2010 – e pelo governador pernambucano Eduardo Campos, do PSB. As pesquisas qualitativas também apontaram a Aécio uma preocupação da classe média com o que chama de “viés autoritário do PT”. É um tema que une os principais pré-candidatos à Presidência e agrada a setores que passaram a olhar o PSDB com reservas depois que Serra levou para os palanques uma pauta conservadora em torno de questões como o aborto e a união homoafetiva.
O tucano também aposta na consolidação da candidatura de Eduardo Campos e batalha para que o Movimento Democrático, do deputado Roberto Freire, a Rede, de Marina Silva, e o Solidariedade, de Paulo Pereira da Silva, da Força Sindical, consigam efetivamente sair do papel. A aposta é de que até as vésperas dos registros das candidaturas, tucanos, socialistas e marineiros tenham discursos convergentes. A expectativa também é de que Serra permaneça aconchegado no ninho tucano. Aécio acredita ainda que, em 2014, poderá trazer para o bloco oposicionista o PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab.
O tucano também aposta na consolidação da candidatura de Eduardo Campos e batalha para que o Movimento Democrático, do deputado Roberto Freire, a Rede, de Marina Silva, e o Solidariedade, de Paulo Pereira da Silva, da Força Sindical, consigam efetivamente sair do papel. A aposta é de que até as vésperas dos registros das candidaturas, tucanos, socialistas e marineiros tenham discursos convergentes. A expectativa também é de que Serra permaneça aconchegado no ninho tucano. Aécio acredita ainda que, em 2014, poderá trazer para o bloco oposicionista o PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab.
Fonte: Revista ISTOÉ - N° Edição: 2268 - Por Mário Simas Filho e Delmo Moreira
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