A última versão de Marcos Valério sobre o mensalão chega com sete anos
de atraso. Difícil imaginar os motivos pelos quais o publicitário, tendo
passado por verdadeira execração pública no auge do escândalo, em 2005,
tenha resistido por tanto tempo sem revelar os detalhes das tratativas
inaugurais do esquema, que hoje traz a público.
Que argumentos tão poderosos teriam calado o mentor do mecanismo que
salvaria o PT da gigantesca dívida de campanha e se revelaria
extremamente rentável com o passar do tempo – gerando dividendos
financeiros e políticos, como depois se verificou?
A versão que Valério hoje apresenta pode não ser verdadeira, mas é
tremendamente verossímil. Aliás, na mesma medida em que é inverossímil a
ideia de que Lula jamais tenha sabido de nada — hipótese que ofende a
inteligência e a liderança do então presidente. Seria admitir que o
verdadeiro poder emanasse de José Dirceu, e não de Lula.
Admita-se, com grande dose de boa vontade, que, ao ser apresentado à
ideia dos empréstimos salvadores, Lula não tenha compreendido a
gravidade da proposta, e que, em seguida, tenha perdido de vista os
detalhes da operação, assim como os descaminhos do dinheiro — isto é,
que tudo tenha fugido ao seu controle. Afinal, era um homem ocupado.
Ainda assim, é de se admirar que Marcos Valério tenha guardado segredo
por sete anos de fatos tão graves, como ter repassado dinheiro para
custear despesas pessoais de Lula, ou ter sofrido ameaças de morte de
Paulo Okamotto.
A tomar como verdadeiras tais revelações, tudo indica que Marcos
Valério, assim como muitos dos denunciados no mensalão, jamais acreditou
na real perspectiva de julgamento e muito menos de condenação. Afinal,
se não ia mesmo dar em nada, para que complicar as coisas e fazer ainda
mais inimigos entre poderosos?
Agora, a situação é diferente: Valério perdeu a mulher, o filho, as
empresas, e, em breve, perderá a liberdade. Dizer a verdade — a seu modo
— pode, inclusive, ser uma forma de se proteger de um hipotético
atentado contra sua vida.
É tarde, porém. Sua versão já não muda a sentença: 40 anos de prisão.
Nem lhe garante proteção especial. Tivessem os fatos sido revelados em
2005, verdadeiros ou não, teriam entornado o escândalo que já ameaçava a
cadeira presidencial. Sua divulgação neste momento, a dez dias do
recesso parlamentar e com o julgamento do mensalão praticamente
encerrado, apenas lança mais sombra sobre a imagem de Lula e o
transforma em alvo permanente, de agora em diante.
Fonte: R7 - Blog da Christina Lemos

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