Prioridade será julgar ações que repercutem em outras instâncias
Joaquim Barbosa assume a presidência do STF no dia 22: transparência em julgamentos e reserva sobre reajustes salariais
BRASÍLIA - Quando assumir a presidência do Supremo Tribunal Federal
(STF), o ministro Joaquim Barbosa vai empunhar a bandeira da
transparência. Uma das suas primeiras providências será derrubar a regra
pela qual o sistema de busca do tribunal exibe apenas as iniciais dos
investigados em processos, mesmo que não tenha sido decretado segredo de
justiça no caso específico. Hoje, o relator decide se permite a
divulgação do nome do investigado. Na gestão de Barbosa, todos os
processos chegarão à Corte em caráter público, e, apenas se for o caso, o
relator decretará o sigilo. O segredo às avessas foi uma medida da
gestão do ex-ministro Cezar Peluso na presidência do STF. Peluso se
aposentou em agosto deste ano.
Barbosa assumirá o cargo de forma interina, na próxima segunda-feira.
No domingo, o atual presidente do STF, Carlos Ayres Britto, completa 70
anos de idade e será obrigado a se aposentar. A sessão de despedida de
Ayres Britto foi ontem. A posse oficial de Barbosa será no dia 22, em
cerimônia para a qual foram convidadas 2.500 pessoas. Ele será o
primeiro negro a comandar a mais alta Corte do país. O mandato é de dois
anos.
Fila de processos só fez aumentar
A prioridade de Barbosa na presidência será dar maior atenção aos
processos com repercussão geral. Essa classificação é dada a processos
que, uma vez decididos pelo STF, determinarão a forma como outros
tribunais tratarão do mesmo assunto. Hoje, há 613 processos desse tipo
aguardando o julgamento no Supremo. Por consequência, 423.468 estão com o
andamento paralisado em tribunais estaduais e federais em todo o país.
Como o processo do mensalão impediu outros julgamentos na Corte, o
número de processos sobrestados em outros tribunais cresce
assustadoramente: no início de setembro, eram 267.156. Barbosa pretende
designar servidores e juízes do STF para cuidar do assunto.
Para garantir maior transparência à administração do tribunal, Barbosa
escolheu Fernando Camargo, um auditor do Tribunal de Contas da União
(TCU), para ocupar a Diretoria Geral do STF. O diplomata Silvio
Albuquerque será seu chefe de gabinete. E Flávia Eskhardt da Silva,
atual assessora do ministro, ocupará a Secretaria Geral da Presidência.
No início, ordem será baixar a poeira
Embora tenha agitado o julgamento do mensalão com discussões pesadas,
Barbosa pretende deixar as mudanças administrativas para mais adiante.
No primeiro momento, quer deixar baixar a poeira do julgamento, que
acirrou os ânimos entre os ministros. Depois, com o clima mais ameno,
empreenderá as mudanças que considera necessárias.
Ao longo do julgamento do mensalão, Barbosa conseguiu mapear aliados e
possíveis entraves a seus planos. Ele considera adversários Ricardo
Lewandowski, Dias Toffoli e Cármen Lúcia. Na visão do relator do
processo, os três teriam tentado travar a celeridade do julgamento. Por
outro lado, Luiz Fux foi quem se mostrou um aliado de primeira hora, um
dos ministros que mais defenderam as posições de Barbosa ao longo do
julgamento. No rol dos aliados, o novo presidente também contabiliza
Gilmar Mendes, Celso de Mello e Ayres Britto. A amizade do atual
presidente, no entanto, não será de muita utilidade nos próximos dois
anos, pois vai se aposentar no fim de semana.
Reajustes prometem ser prova de fogo
Na presidência, as parcas habilidades diplomáticas de Barbosa serão
postas à prova. Ele terá de negociar com a presidente Dilma Rousseff e
com parlamentares o reajuste salarial de magistrados e servidores. O
tema é geralmente delicado, pois esbarra na falta de orçamento e na
pouca popularidade da causa diante da opinião pública. Embora não tenha
dado declaração sobre o assunto, o ministro não demonstra interesse em
temas corporativos, o que pode deixar a categoria por mais algum tempo
com os proventos congelados.
Pelo menos publicamente, Barbosa não vem dando importância alguma ao
fato de ser o primeiro negro a presidir o STF. Tem dito que é apenas um
compromisso que estava previsto e ao qual não se furtará. Até agora,
Barbosa não planeja medida alguma para agradar diretamente às minorias
em sua gestão.
A menina dos olhos é mesmo a repercussão geral. Há, por exemplo,
11.149 ações paradas em todo o Brasil aguardando julgamento de um
processo no STF sobre a compensação da diferença de 11,98% resultante da
conversão em URV dos valores em cruzeiros. Há também 9.013 ações
aguardando o julgamento de um processo que discute o dever do poder
público de fornecer medicamento de alto custo a portador de doença grave
que não tenha dinheiro para comprá-lo.
Outro tema aguardando o veredito do STF é a indenização pedida por
servidores públicos pelo não encaminhamento de projeto de lei de
reajuste anual dos vencimentos. Há 6.312 processos parados no Brasil
sobre o assunto.
Fonte: O Globo
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