O
PT reedita no microcosmo partidário um debate antigo: o que prevalece
na formação de um delinquente, a cultura ou a genética? As opiniões vão
de um extremo ao outro. Há os que apostam na influência do ambiente e os
que acham que o bandido nasce feito.
Nos
casos que envolvem crimes cometidos por miseráveis, os especialistas
ainda não conseguiram responder se a sociedade é responsável ou não. No
caso do PT, não há dúvidas. Se há alguém que pode ser chamado de um
produto do meio é o deputado André Vargas.
Vargas
é um filho da cultura mensaleira, que admite usar todos os estratagemas
ilegais para atingir os subterfúgios ilegítimos. O companheiro pode
escorar sua defesa nas suas circunstâncias. A culpa é do PT, que o
estimulou a ser o que é com todas as facilidades, a impunidade e a
cumplicidade que assegurou aos filiados do mensalão.
Se
a cúpula da legenda, condenada pelo STF e recolhida ao xilindró, não
perdeu as regalias partidárias e o poder político, Vargas só podia
esperar tolerância e incentivo de uma cultura política cada vez mais
caracterizada pela amoralidade. Pilhado com a mão no bolso do doleiro Alberto Yossef, o mínimo que o companheiro merecia era que o PT sentisse remorso do que fez com ele e se apiedasse.
Deu-se, porém, o oposto. O PT adotou com André Vargas
a política do mata-e-esfola. Ameaça expulsá-lo da legenda caso não
renuncie ao mandato de deputado. Espremido nesta terça-feira (22) por
Rui Falcão, presidente do PT federal, Vargas estufou o peito como uma
segunda barriga e anunciou: “Não renuncio”.
Abespinhado,
Falcão acusou Vargas de prejudicar com sua má reputação as campanhas de
Dilma Rousseff ao Planalto, de Alexandre Padilha ao governo de São
Paulo e de Gleisi Hoffmann ao governo do Paraná. Vargas deu de ombros.
Natural. Se a história recente do PT ensinou alguma coisa é que nenhum
companheiro paga pelo que fez. O amigo do doleiro cobra apenas respeito à
tradição.
Ao
condenar José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, o STF impusera ao
PT um desafio. Afora a necessidade de reformular a lorota segundo a qual
o mensalão é uma “farsa”, o partido fora convidado a decidir o que
fazer com seu estatuto. Ou expulsava de seus quadros os sentenciados ou
rasgava o documento.
As
hipóteses em que a pena de expulsão deve ser aplicada estão listadas no
artigo 231 do estatuto do PT. O item de número VII anota que o filiado
será expurgado do partido quando houver “condenação por crime infamante
ou por práticas administrativas ilícitas, com sentença transitada em
julgado."
Em
2005, quando o mensalão foi pendurado nas manchetes, Lula declarou-se
“traído” e o PT expulsou o tesoureiro Delúbio. Em 2011, já na condição
de ex-presidente, Lula esforçava-se para empinar a tese da “farsa” e
Delúbio, à época ainda uma condenação esperando para acontecer, foi
readmitido na legenda. Dirceu e Genoino jamais foram submetidos à
Comissão de Ética partidária. Ao contrário, são celebrados como
“guerreiros do povo brasileiro”.
Diferentemente
da cúpula mensaleira, André Vargas ainda está solto. O STF ainda nem
deliberou sobre o pedido da Procuradoria da República para que seja
aberto um inquérito contra ele. É nessa condição que o deputado
reivindica do PT o direito de se defender no Conselho de Ética da
Câmara, por ora o único foro em que está sendo processado. E o PT,
tomado de súbita intransigência: negativo, companheiro. Aos mensaleiros,
tudo. Aos amigos de Youssef, os rigores do estatuto.
Louve-se
a resistência de André Vargas. Sem nada que o redima, o lobista do
doleiro ganhou nova serventia. Tornou-se uma denúncia de carne e osso do
meio apodrecido que o produziu. O excesso de promiscuidade e a aliança
do PT com o amoralismo produziram um Vargas. Ao ameaçá-lo de expulsão
depois de ter servido refresco aos mensaleiros, o partido se desobriga
de examinar suas próprias culpas. O petismo mergulhou numa fase nova.
Vive a fase do pós-cinismo.
Fonte: Blog do Josias de Souza - UOL.
Nenhum comentário:
Postar um comentário