Há
dias, PT e PMDB ocupam quase todos os espaços com bate-bocas, acusações
e ameaças de cá e de lá. O grupo de elite do governo, a própria
presidente Dilma Rousseff, o ex Lula e seus asseclas parecem se dedicar
apenas à crise com o aliado, detentor de fartos minutos no horário
eleitoral de rádio e TV. O resto, ou melhor, o País, que se dane.
A única serventia da rixa é desnudar o quão rasteiro e desprezível se
tornou o debate político. Essa, sim, uma crise séria, cuja consequência
tem sido afastar cada vez mais as pessoas do universo da política
institucional.
O desinteresse pela política, e as últimas pesquisas de opinião
demonstram isso, é crescente, em especial entre os mais jovens. Não é
para menos. O exemplo que vem de cima não é nada inspirador.
Dilma não costuma abrir as portas do Palácio da Alvorada para debater
questões de importância para o País, mas é reincidente em transformá-lo
em comitê eleitoral, como se o bem público do PT fosse.
Não se tem notícias – muito menos fotografia - de tratativas de
políticas de desenvolvimento, por exemplo, na mesa palaciana em que
Dilma posou de mãos dadas com Lula, cercada pelos risos da cúpula de sua
campanha à reeleição.
O que fez o seu governo diante dos dados do Conselho Internacional de
Controle de Narcóticos da ONU, indicando que o consumo de cocaína no
Brasil duplicou nos últimos 10 anos, com números quatro vezes superiores
à média mundial? Nem mesmo uma reunião de praxe.
E frente aos números vexaminosos do Pisa, avaliação internacional de
educação que deixa o Brasil na rabeira, 55º em leitura, 58º em
matemática e 59º em ciências, entre 65 países?
Quisera problemas do porte da crise energética ou da violência
crescente no País, em que a morte matada registra números mais
sangrentos do que os piores conflitos contemporâneos, pudessem ser
discutidos com a urgência com que governo e o seu maior aliado tratam a
ocupação de um ou outro ministério.
Ou que a preocupação com o escoamento da safra recorde de grãos, sem
silos de armazenagem, dependente de estradas e portos precários, fosse
pelo menos parecida com a que petistas e peemedebistas dão para a
formação de palanques regionais.
Como a reeleição, único objetivo real e imediato, passa longe da agenda
do País, o ambiente de hostilidade com o PMDB tem sua utilidade para a
candidata Dilma. Movimenta e tenta canalizar para o aliado a pecha do
fisiologismo. Nada que, de fato, chegue a perturbar os descolados
peemedebistas.
No fundo, no fundo, puro jogo de cena.
Os dois lados estimulam os seus galos de briga enquanto as raposas combinam a divisão do galinheiro.
O País? Esse que se dane.
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de
S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario
Covas. Atualmente trabalha na agência 'Lu Fernandes Comunicação e
Imprensa'.
Fonte: MARY ZAIDAN - Blog do Noblat.
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