Tiraram do caminho da presidenta a mais forte adversária, o que favorece a decisão no primeiro turno
"Nós dois somos possibilidades e sabemos disso", de Marina Silva, ao se insinuar como candidata a presidenta, pelo PSB
Após a decisão ousada e arriscada do governador Eduardo Campos (PE),
presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), de aceitar a filiação
de Marina Silva, é melhor deixar a poeira baixar, como está baixando,
para tentar ir além do barulho e dos elogios despejados sobre a aliança
entre dois pré-candidatos ao comando da República.
A decisão de Marina de se filiar ao PSB acaba com a manifestação
apolítica tão marcante nos movimentos de junho, em que era proibido
exibir estandartes partidários. Naquele momento, o pique de intenções de
voto em Marina contrastava com a queda profunda da popularidade e do
apoio a Dilma Rousseff.
Criou-se
o mito, após o furdúncio nas ruas, da emergência de um mundo político
novo impulsionado pelas pesquisas que registravam, no entanto, um
momento político da hora e não a eternidade política desejada.
A ilusão foi rápida.
Há uma crença no País, cuja expressão maior é Marina Silva.
Acredita-se, ou dizem acreditar, que é possível fazer política seguindo
regras rígidas do moralismo. Contra isso vale recuperar a frase
irretocável de Hermes Lima, um dos fundadores do PSB e exemplar raro de
integridade. Ele observou, para desilusão de Marina e dos “marineiros”
ortodoxos: “A política não é uma atividade para pecadores”.
Marina não crê nisso. Esse comportamento é o que leva à conclusão de
que a decisão de Eduardo foi ousada e arriscada. Eis o reflexo de um dos
salmos tirados do evangelho que ela prega: “Qual a diferença se for
Aécio Neves, Eduardo Campos ou a Dilma? Tem diferença em relação ao
modelo de desenvolvimento? Me parece que até agora todos estão no mesmo
diapasão”.
Campos, certamente incomodado, segue a rotina de levar um partido
tradicional ao topo do poder. Para isso, as restrições devem ser poucas.
Isso não é novidade para o partido. O PSB, ao longo da história, já
tombou da esquerda para a direita (ao aderir ao udenismo reacionário na
eleição de 1954) e da direita para a esquerda (expressão da ala que
apoiava João Goulart).
A “cara nova” de Campos, um moderado, contrapõe-se à velha e sisuda
feição do avô, Miguel Arraes, respeitável esquerdista que amargou o
exílio após o golpe civil-militar de 1964.
Os “socialistas” (entre aspas) dispõem agora de dois presidenciáveis.
Eduardo Campos era e é, em princípio, o candidato. Marina era, e é, a
esperança da oposição de levar a eleição ao segundo turno. Mas ela
perderá a força tanto se for vice quanto se for mordida pela mosca das
pesquisas pré-eleitorais e aspirar à cabeça da chapa. Marina perdeu o
encanto. O confronto entre os dois (tabelas) mostra como as duas almas
estão distantes, inclusive nas pesquisas de intenções de voto.
Assim, ao contrário do que se pensa, a decisão de Marina pavimenta o caminho para Dilma ganhar no primeiro turno.
Fonte: Carta Capital - Por Maurício Dias.
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