Pezão e Lindbergh travam batalha nos bastidores e protagonizam impasse na aliança PT/PMDB
A eleição de 2014 no Estado do Rio se transformou no maior impasse para
a manutenção da aliança nacional entre PT e PMDB. Bombeiros dos dois
partidos saíram em campo para tentar selar a paz e buscar um acordo
entre os pré-candidatos Lindbergh Farias (PT) e Luiz Fernando Pezão
(PMDB). Por enquanto, conseguiram apenas promessas de não agressão
pública. Mas longe dos olhos dos eleitores, o senador petista e o
vice-governador peemedebista agem de modo agressivo na costura de apoios
para a disputa do Palácio Guanabara.
Em entrevista ao GLOBO, Pezão, que critica a antecipação da campanha,
detalhou a estratégia de fortalecimento de sua candidatura, que vai de
investimentos do governo do estado nos municípios com maior potencial
eleitoral a cooptar petistas de correntes adversárias de Lindbergh. Já o
senador petista, que não concedeu entrevista seguindo recomendações do
PT nacional para estancar a crise, busca apoio no primeiro escalão da
presidente Dilma Rousseff e se vale de aliados para criticar a
administração Cabral. Ele tenta a aproximação com o ministro da Pesca,
Marcelo Crivella (PRB), que se distanciou do PMDB fluminense e ensaiou
uma pré-candidatura. Aliados do cacique do PRB já participam da caravana
de Lindbergh pelo estado. O ministro fortaleceria os laços do petista
com os evangélicos.
Enquanto a manutenção da aliança PT/PMDB patina no Rio, Pezão tira as
primeiras cartas da manga. O vice-governador decidiu pôr nas ruas a
conhecida e eficaz política do asfalto, que ajudou Sérgio Cabral a se
reeleger, assim como o ex-governador Anthony Garotinho a passar o cargo
para sua mulher, Rosinha.
Ainda este mês, Pezão anuncia o início das obras do programa Bairro
Novo, que vai injetar R$ 800 milhões em obras de pavimentação e
urbanização em 20 municípios da Baixada Fluminense e Região
Metropolitana, além de um amplo projeto de recuperação de estradas no
interior.
O asfalto chega como resposta às promessas de infraestrutura que
Lindbergh tem feito a prefeitos em sua caravana. A região beneficiada
pelo Bairro Novo abriga a maior concentração de eleitores. O programa
prevê 750 quilômetros asfaltados.
No mesmo compasso, Lindbergh segue em sua caravana pelo estado com a
orientação do ex-presidente Lula para que evite ataques a Pezão. Lula
teria se irritado com o senador depois que ele participou de um evento
do PT, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, há duas semanas. No
encontro, organizado para comemorar os dez anos dos governos Lula e
Dilma, Lindbergh atacou Pezão e Cabral, contrariando o ex-presidente.
Após o episódio, Lindbergh tem evitado dar declarações que possam
alimentar ainda mais a crise PT/PMDB. E se vale de assessoria
especializada para cuidar de sua imagem. Nos bastidores, porém, ele
trabalha para minar o governo Cabral. Coordenadores da pré-campanha
preparam um programa de governo, e determinaram que um grupo de
especialistas vasculhe deficiências em setores da administração
peemedebista, especialmente em áreas como Transportes, Educação e
Saneamento básico. Os problemas encontrados serão usados, mais tarde,
por Lindbergh em discursos públicos e em programas do PT na TV e no
rádio.
Pezão ainda aposta na interferência do PMDB nacional para manter a
aliança com o PT. A retirada da candidatura de Lindbergh eliminaria o
principal obstáculo para o projeto político peemedebista no estado.
Também facilitaria a composição de uma extensa aliança partidária nos
moldes da construída pelo governador Sérgio Cabral e o prefeito do Rio,
Eduardo Paes. Cabral e Pezão defendem o discurso de que o rompimento da
parceria PT/PMDB limitaria o palanque da presidente Dilma Rousseff no
Rio e acabaria com a "aliança que mais deu certo no país".
Pezão afirma que o PMDB cumpriu todos os acordos previstos na
negociação nacional. No Rio, abriu mão da disputa em oito cidades nas
eleições municipais de 2012 e mantém o PT em cargos no estado e na
prefeitura. A negociação vai incluir a cobrança da fatura da disputa
municipal.
- O Rio atingiu um grau de maturidade política que garante a aliança. A
questão não é ter esperança em manter a coligação, mas garantir a
participação na aliança nacional, pensar num projeto nacional para o
Brasil. O PMDB trabalhou para a eleição da presidente Dilma e vamos
lutar até o último momento pela aliança. O PT continua no governo do
estado e com duas pastas importantes.
Ainda faz parte da estratégia pré-eleitoral de Pezão a não agressão a
adversários. Pezão tem dito "não esperem um discurso de ataque ao
senador Lindbergh, pelo menos agora".
Com pesquisas qualitativas nas mãos, ele identifica como algo positivo o
que seria uma barreira para sua candidatura: o desconhecimento de seu
nome por parte do eleitorado. O atual vice quer tirar proveito do que,
hoje, pesa contra:
- Dos nomes que estão na disputa, sou o menos conhecido. Mas os que me
conhecem me identificam com o trabalho. Mais de 70% dos entrevistados
relacionam meu nome ao trabalho. Cabe aos marqueteiros explorarem essa
marca.
Petista busca apoio de prefeitos do PMDB
Além de Crivella, de evangélicos e de ex-aliados de Cabral e Pezão,
como o deputado estadual Domingos Brazão (PMDB) e seu grupo, Lindbergh
prioriza um entendimento com dois partidos de sua preferência: o PSB, do
governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pré-candidato à Presidência, e
o PDT, que anunciou a possibilidade de candidatura do deputado federal
Miro Teixeira ao estado. Os dois partidos pertencem às bases aliadas de
Cabral e de Paes, inclusive com indicações a cargos no primeiro escalão.
Na semana passada, em evento no Rio, Campos declarou que a manutenção
da aliança do PSB com o PMDB no Rio ainda não está garantida.
A pré-candidatura de Lindbergh tem o peso do apoio de Dilma e de Lula,
apesar do impasse com o PMDB. O ex-presidente, por exemplo, já disse
publicamente que o petista tem o direito de ser candidato ao governo do
Rio. Enquanto isso, Dilma reduziu as suas idas ao estado e,
consequentemente, as aparições ao lado de Cabral e Pezão. Dentro do
grupo de Lindbergh, o pensamento não é romper como todo o PMDB. O
petista também tem se aproximado de prefeitos da legenda e de outros
partidos aliados de Cabral.
O senador já dedica a maior parte do tempo à pré-campanha. Ele só fica
em Brasília três vezes por semana (terça, quarta e quinta-feira). O
restante dos dias é usado para encontros com prefeitos e vereadores.
- Com a caravana, conheceremos as necessidades de cada região. Não é
uma caravana eleitoral. É apenas um diálogo com moradores e empresários -
afirmou o deputado federal Jorge Bittar (PT/RJ), coordenador da
pré-campanha e do programa de governo de Lindbergh.
Fonte: O Globo - Por Marcelo Remigio e Cássio Bruno
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