Há limite para tudo – até mesmo para os direitos fundamentais das pessoas.
Por exemplo: você é livre para dizer o que quiser. Mas você não pode
sair por aí dizendo o que quiser. A lei considera crime dizer
determinadas coisas.
Ela também deveria punir quem abusa do cinismo – e por abusar, ofende a sociedade.
Foi o caso recente de Renan Calheiros (PMDB/AL), eleito presidente do Senado no início do mês. Abusou de ser cínico.
Um manifesto que pede o impeachment de Renan é o sucesso do momento nas
paradas das redes sociais. Atraiu até agora mais de um milhão e meio de
assinaturas. No dia em que for encaminhado ao Senado, seu destino será a
lata do lixo.
Milhares de assinaturas obrigam o Congresso a examinar propostas de
leis ordinárias, mas o afastamento de um dos seus dirigentes... Esqueça.
Não me pergunte por que é assim. Simplesmente é.
O Congresso, que em 2007 absolveu Renan contra todas as evidências de
que prevaricara, jamais o condenará. A cara do Congresso é igual ao
focinho de Renan.
Expressiva fatia dos votos que elegeu Renan presidente do Senado pela
segunda vez tem a ver com a tranquilidade que ele inspira aos seus
pares. Quem esteve com a cabeça a prêmio tudo fará para que seus
camaradas sejam poupados de experiência tão angustiante.
Renan governará o Senado por dois anos. E talvez por mais dois.
Enquanto ali estiver, respirem em paz os senadores que temem ser alvo de
uma ação moralizadora de origem interna ou externa.
O controle que Renan exerce sobre o Senado é acachapante.
O corregedor do Senado, encarregado de zelar pelo bom comportamento dos
senadores, será uma figura da inteira confiança de Renan.
A presidência do Conselho de Ética caberá a outro homem de confiança de Renan. Ou do PT, o que não fará diferença.
Só terá assento ali quem representar a sólida garantia de que defenderá
Renan acima de qualquer coisa, bem como todos os que desfrutem da
condição de aliados fiéis dele.
No passado, acusado de quebra de decoro, Renan foi condenado pelo
Conselho de Ética e absolvido pelo plenário. A história não se repetirá.
Portanto, tudo bem até aqui e a perder de vista - para Renan, os seus e
aqueles que não se importam com essa coisa comezinha chamada ética.
Tudo bem, nada! Mas o que fazer se o Congresso (Câmara dos Deputados e Senado) está todo dominado?
Nem mesmo isso, contudo, assegura a Renan o direito de ser cínico.
Excessivamente cínico. Abusivamente cínico. Descaradamente cínico.
Insolentemente cínico.
Prefiro “insolentemente” cínico. Lembra-me um professor do curso
ginasial que bradava com os alunos: “Não sejam insolentes”. Pois Renan
foi ao comentar o pedido de impeachment dele.
Primeiro chamou de “lícita e saudável” a mobilização na internet para
recolher mais assinaturas contra ele. Depois subverteu seu significado.
Disse que a mobilização tem por objetivo tornar o Congresso mais ágil e
preocupado com os cidadãos.
Por fim, desdenhou do movimento. “O número de assinaturas não é tão
importante quanto a mensagem”. E lembrou que fora líder estudantil. E
que também se valera de todos os meios para obter o que desejava.
O número de assinaturas é tão ou mais importante, sim, do que a mensagem. Se não fosse grande jamais Renan comentaria o assunto.
O número de assinaturas é tão ou mais importante, sim, do que a mensagem. Se não fosse grande jamais Renan comentaria o assunto.
Nada há de juvenil na iniciativa. Gente de todas as idades a ampara.
O comentário atende à recomendação de assessores para que Renan não pareça presunçoso.
Presunçoso? Está aí uma coisa que ele definitivamente não parece.
Em compensação...
Deixa pra lá.
Fonte: Blog do Noblat - Por Ricardo Noblat
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