Ao rechaçar a própria ida à CPI, procurador-geral saiu atirando
no mensalão; no STF, Gilmar Mendes aplaudiu chicana política sobre falta
de explicação para engavetamento de inquérito contra Demóstenes Torres;
Marco Aurelio Mello atacou: “Extravagante”
247 – O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, rachou o
Supremo Tribunal Federal. Ao negar a possibilidade de aceitar uma
possível convocação para depor na CPI do Cachoeira e, se puder, explicar
porque deixou engavetado, durante três anos, o inquérito da PF com base
na Operação Las Vegas, que incriminava o senador Demóstenes Torres, ele
executou uma chicana política. Deu um salto de assunto e passou a
atacar o caso Mensalão, que pode ser julgado a qualquer momento pelo
Supremo.
Na mais alta corte do País, Gurgel conseguiu, de saída, dois aliados à
sua postura. O mais entusiasmado pareceu ser o ministro Gilmar Mendes,
que deu um tom obscurantista à convocação do procurador pela CPI. “São
pescadores de águas turvas”, definiu Mendes a respeito dos parlamentares
que pedem o depoimento de Gurgel. Barbosa foi igualmente protetor, para
quem o procurador é “um servidor do Estado inatacável”.
Sem fugir do ponto levantado por Gurgel, que procurou, na prática,
trocar a discussão do engavetamento da Operação Las Vegas pelo aumento
de pressão sobre o STF para julgar e condenar os réus do Mensalão, Marco
Aurélio Mello foi bastante preciso. “A CPI começou a trabalhar agora e
não podemos nos precipitar e tirar ilações, muito menos dessas
extravagantes, que contrariam a razão”, disse ele, referindo-se à
comparação de alhos com bugalhos feita por Gurgel.
Abaixo, noticiário do G1 sobre o posicionamento dos ministros Gilmar
Mendes e Joaquim Barbosa, e do blog do jornalista Bob Fernandes, do
portal Terra, sobre a manifestação de Marco Aurélio Mello:
Marcelo Parreira Do G1, em Brasília - Os ministros Gilmar Mendes e
Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, manifestaram apoio nesta
quinta-feira (10) ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
Parlamentares integrantes da CPI do Cachoeira defendem a convocação do
procurador pela comissão, sob o argumento de que, em 2009, ele não tomou
providências ao receber o inquérito da Operação Vegas, que investigava
prática de jogo ilegal.
Em fevereiro deste ano, a Polícia Federal prendeu Carlinhos Cachoeira
durante a Operação Monte Carlo, um desdobramento da Vegas. O bicheiro é
apontado pela PF como chefe de uma organização que explorava o jogo
ilegal em Goiás.
"Há uma certa excitação em relação a tudo isso. Tem plantação
notória, grupos políticos manipulando as próprias notícias. Evidente que
a procuradoria pode ter a sua estratégia em relação a qualquer tema",
afirmou Mendes ao chegar ao STF.
Para o ministro, há relação entre a crítica à ação do
procurador-geral e o mensalão, escândalo de compra de votos durante o
governo de Luiz Inácio Lula da Silva que deverá ser julgado neste ano
pelo Supremo. Gurgel manifestou essa opinião nesta quarta-feira, ao
afirmar que os ataques seriam resultado de um "medo do julgamento do
mensalão" por "réus e protetores dos réus".
"São pescadores de águas turvas, pessoas que estão interessadas em
misturar excitações, tirar proveito, inibir as ações dos órgãos que
estão funcionando", afirmou Gilmar Mendes.
O ministro também defendeu que Gurgel não deponha na CPI.
Parlamentares já manifestaram a intenção de convocá-lo, mas o procurador
alega que não poderia falar à comissão sob pena de vir a ser afastado
do processo.
O relator do processo do mensalão, ministro Joaquim Barbosa, também
defendeu Gurgel, a quem definiu como "um servidor do Estado inatacável".
Para Barbosa, não há qualquer motivo para que Gurgel seja convocado a
falar na CPMI. "Não há porque convocá-lo para explicar sobre as suas
atribuições, que são constitucionais, são legais.
“É uma gente que goza do mais alto grau de independência funcional", argumentou.
Ataques
O procurador é alvo de críticas de parlamentares em relação à sua
atuação nas investigações co contraventor Carlinhos Cachoeira.
Integrantes da CPMI que investiga as relações do bicheiro com políticos e
empresas têm questionado a decisão de Gurgel de, em 2009, não pedir a
abertura de inquérito para investigar o senador Demóstenes Torres (sem
partido-GO).
Os ataques a Gurgel se intensificaram após depoimento do delegado da
Polícia Federal, Raul Alexandre, à comissão nesta terça-feira (8). Ele
foi o responsável pela operação Vegas, que investigou a exploração dos
jogos de azar, inclusive Cachoeira.
O delegado disse, segundo relatos de parlamentares da comissão, que
os dados foram levados à Procuradoria-Geral da República porque as
investigações haviam indicado suposto envolvimento de pessoas com foro
privilegiado, como é o caso de Demóstenes. A PGR, no entanto, não pediu a
abertura de inquérito.
"Ilações extravagantes"
Portal Terra, por Marina Dias - O ministro do Supremo Tribunal
Federal Marco Aurélio Mello afirma que "não se pode desviar o foco" da
CPI do Cachoeira e misturar o assunto com o julgamento do caso que ficou
conhecido como Mensalão, previsto para acontecer este ano.
"Precisamos olhar sempre o lado positivo das práticas republicanas.
Não se pode desviar o foco. A CPI começou a trabalhar agora e não
podemos nos precipitar e tirar ilações, muito menos dessas
extravagantes, que contrariam a razão", afirmou o ministro a Terra
Magazine.
Mello contraria as declarações do procurador-geral da República,
Roberto Gurgel, alvo da base aliada na CPI do Cachoeira. Gurgel acusa os
réus do Mensalão de serem os mentores das críticas contra ele. Isso
porque, parlamentares envolvidos na investigação contra a organização de
Carlinhos Cachoeira afirmam que o procurador-geral não cumpriu com seu
dever, em 2009, quando a Operação Vegas, da Polícia Federal, já apontava
indícios das ações de Cachoeira e de sua relação com diversos
políticos.
De acordo com Gurgel, as críticas têm o objetivo de enfraquecer o
julgamento do Mensalão e fragilizar a acusação e seus julgadores, ou
seja, os ministros do Supremo Tribunal Federal. Marco Aurélio Mello
discorda.
"Não consigo imaginar o extravagante, que essas críticas (a Gurgel e
ao STF) seriam uma retaliação, principalmente por parte das duas Casas
do Congresso", declarou o ministro. "Não vejo um movimento para
enfraquecer o julgamento do Mensalão, até porque, pelo amor de Deus, o
STF não é sensível a pressões".
Mello afirma que é "natural" que haja esse tipo de questionamento por
parte dos parlamentares. "A base aliada está apenas questionando a
problemática de não ter se tocado um certo inquérito em 2009 e busca
esclarecimentos sobre isso. Faz parte do procedimento que nós vemos
sempre nas CPIs. Eles fustigam para levantar elementos e esclarecer os
fatos. É natural", explicou.
Fonte: Brasília 247 - 10 de May de 2012 às 19:41
Nenhum comentário:
Postar um comentário